Sétima entrevista, da série Perfil Bully, para conhecer melhor os criadores que são destaque no Brasil. Apresentamos: Marco Ude – Ude Bullies’ by MAG
Maior representante da Daxline no Brasil, é referência quando se trata de cães menores e corretos, sendo um dos pioneiros dos micro/mini American Bully. Atualmente morando nos Estados Unidos, berço da raça, Marco Ude nos conta um pouco da sua história na criação e o sucesso em pistas do Brasil e do Mundo com uma coleção de campeões em shows de American Bully.
Venha conhecer mais sobre o Ude Bullies’ by MAG.
Por Gustavo Josetti – 03 de fevereiro de 2021
01) Como conheceu o American Bully e qual foi o primeiro impacto com a raça?
Conheci nos Estados Unidos, aproximadamente há uns 10 anos. Na época eu morava no estado de New Jersey e alguns amigos em comum mencionaram sobre a raça. Desde então comecei a pesquisar sobre o tal American Bully e achei interessante.
Um cão com uma aparência robusta, forte, mas com uma docilidade incrível. Essa docilidade foi o que me chamou mais a atenção naquele momento.
Por outro lado, quando fui pesquisar valores nos melhores canis da época, me assustei. Não estava acostumado a escutar valores como 5 a 10 mil dólares por um filhote, então como naquele momento meu foco era outro, acabei não adquirindo meu primeiro American Bully. Mas continuei acompanhando e pesquisando sobre a raça.
02) Você sempre foi um representante da Daxline no Brasil, sempre com muito orgulho dessa linha de sangue, mas em algum momento da sua criação você sofreu pressão para adicionar outras linhas de sangue que vinham se destacando e influenciando o movimento bully?
De fato, sou muito grato ao velho Ed Shepherd (R.I.P.) e ao Gottyline’s Dax por tudo que fizeram pela raça e pelo meu canil. Tive a honra de conhecê-los pessoalmente e estar com ambos por mais de uma vez.
Na primeira vez que me sentei na sala de estar da casa do Ed e ele sentado em sua poltrona com o Dax deitado ao lado, eu achei que estava sonhando. Talvez muitos que começaram na raça mais recentemente não irão entender bem, mas naquela época (sete anos atrás), eu estava diante do cão mais falado da raça – sem sombra de dúvidas o Gottyline’s Dax era o Rei dos American Bullies.
Escutei muitas histórias, conselhos do que fazer ou não fazer, algumas dicas sobre a linhagem Gottyline e foi depois de algumas horas de conversa que decidi que esse era o caminho que gostaria de seguir.
Comprei três filhas do Dax (Coco Chanel, Daxi e La Blanca) e duas montas dele. A partir deste momento, o Mag Bully surgiu como um representante da linha Daxline no Brasil.
Sobre usar outras linhas de sangue em nossos projetos, nunca tivemos o menor problema com isso. Sou adepto do que é bom e do que me agrada.
Não sigo modismo, crio o que gosto e sempre respeitando a raça. Tanto é que posteriormente importei matrizes como a Isis (Mikeland), Mia (filha do Miagi), Cous Cous (Dax x Miagi) e outras.
03) O que você pode falar sobre o finado Ed Shepherd e o Gottyline’s Dax? Qual a importância do trabalho dele para a raça American Bully?
Ed Shepherd tem meu respeito e acredito que tem o respeito da grande maioria dos criadores da raça. Um cara que conseguiu fazer com que sua linhagem seja conhecida mundialmente e que fez de um cão o Rei dos American Bullies.
Difícil falar algo diferente disso: duas lendas do mundo bully.
Dax foi um divisor de aguas na raça American Bully e o velho Ed foi seu mentor. Um dependia do outro, tanto que logo após o Dax nos deixar, o velho Ed acabou indo a seu encontro.
04) Você percebeu algumas características ou dificuldades ao trabalhar a linha Daxline? Em sua criação o fechamento de sangue Daxline, mesmo com cães maiores, também gerou cães menores?
Características marcantes de cães Daxline, podemos citar: massa muscular, um cupim bem rodado e aparente, ombros largos e um peito amplo e de boa profundidade.
Dax era um cão Standard Extreme (categoria), uma frente muito forte e pesada, muito bonito de se ver, mas porem com alguns defeitos ou falhas visíveis; como por exemplo, ser um cão com uma linha de dorso longa e outra curiosidade: ele também tinha a mordida prognata.
Esse tamanho (altura) e até mesmo seu comprimento são características notáveis na linha de sangue. Muitos de seus descendentes trazem consigo estas características.
Indo meio que contra estas características, eu busquei sempre selecionar cadelas menores e mais curtas para trabalhar. Talvez devido a isso conseguimos atingir um resultado interessante em curto prazo e até mesmo produzir filhos e netos dele que se enquadram na categoria mini ou micro.
Dax não era um cão perfeito no quesito fenótipo, mas é indiscutível que ele foi um verdadeiro raçador.
05) No Brasil quando iniciaram os shows de conformação diziam que o American Bully para pista não era um verdadeiro exemplar da raça, mas você é um representante Daxline e sempre esteve em pistas, no Brasil e nos Estados Unidos, levando muitos títulos. Você acredita que dá pra conciliar a correção de um cão de pista, com o volume e o conjunto que se espera de um American Bully?
Bom, sinceramente eu nunca escutei falar que o American Bully não é um cão para shows de conformação. Muito menos que o cão de pista não representa a raça. É até cômico isso, porque alguém falar isso mostra toda sua ignorância para com a raça e suas raízes.
A ABKC é a “associação mãe” do American Bully e há anos promove a raça mundo a fora justamente com seus eventos e competições. A cada ano que passa consolida sua força e mais eventos são adicionados no seu calendário anual.
Então onde será que está o erro: no American Bully que está capacitado para representar a raça em frente a um juiz oficial ou será aquele “Cão X” que o modismo comercial criou visando lucros, mas que tem tantas falhas de fenótipo que não pode ser quer entrar em uma pista para ser avaliado porque certamente irá perder ou até mesmo ser desclassificado da pista?
O American Bully bem-criado e selecionado pode ser um cão completo, basta haver dedicação, conhecimento e trabalhar respeitando o padrão da raça.
06) Você foi um dos pioneiros do American Bully variedade Micro no Brasil – uma versão em miniatura do que se espera do padrão da raça. Anos depois como você enxerga a “explosão” desses cães pequenos e o rumo exótico que levaram? Você acredita que há uma diferença entre um American Bully Micro e um Exotic Bully Micro?
Meu primeiro American Bully Miniatura foi produzido em nosso canil há uns seis anos. Filho e neto do Dax, nasceu nosso Barney (Dax x Daxi), um verdadeiro mini monstro.
Logo depois produzimos o Escobarzinho (vulgo Chiquinho), filho do El Chapo x Eternity. Esse baixinho foi o primeiro nanico a fazer mais sucesso no Brasil e as pessoas se encantavam com ele nos eventos. Premiado em diversos shows no Brasil e até no México, o que mais enlouquecia a galera eram suas brincadeiras com sua bola. Um verdadeiro show à parte.
Depois disso vieram seus sucessores, como o CH. Bam Bam (Campeão American Bully Mini pela IBC), CH. Diamantina (Campeã American Bully Mini pela IBC), Cupcake, Top Model, Minnie, Catatau, Peanut, Trooper, Kong, Bella e outros.
Cães pequenos e compactos é uma realidade irreversível, principalmente para o mundo Pet. O problema é o que muitos estão fazendo para tentar atingir esse resultado no menor tempo possível e sem nenhuma seleção ou conhecimento da cinofilia.
A cada dia que passa mais e mais cães com inúmeros problemas genéticos são despejados no mercado e quem irá pagar a conta disso amanhã será seus donos e não os vendedores de cães.
Pesquisar é importante: um cão Mini ou Micro tem que se movimentar bem, tem que respirar bem, tem que ser capaz de viver uma vida normal; não ser um bibelô criado apenas dentro de casa porque não consegue fazer mais nada além de comer e dormir. Isso está errado.
American Bully (categoria Miniatura) é uma raça, Exotic Bully (categoria Micro) é outra raça. São raças diferentes e com suas características distintas.
07) Como um criador como você, com resultados conciliando cães baixos, corretos e dentro do padrão American Bully, enxerga os criadores/clientes que buscam um micro bully, mas os desejam com características totalmente exóticos e abulldogados?
Há quem busca o American Bully (miniatura) e há quem quer o Exotic Bully (micro). Vai do gosto pessoal de cada um.
Quando falamos de American Bully e principalmente Exotic Bully, ambas são raças muito novas. Raças estas que sofreram mudanças genéticas fortes nos últimos anos e com isso o banco genético ainda não é consolidado. Há muito a ser melhorado, principalmente muito a ser selecionado. Só a constante seleção dos melhores indivíduos irá nos levar para um futuro mais promissor para estas raças.
Em relação aos problemas mais comuns que tenho visto nesses últimos sete anos, posso destacar:
- Falta de angulação nos cães (principalmente traseira), isso reflete diretamente na movimentação do cão (ficando mais travado, com menos mobilidade) e na maioria dos casos também eleva muito a traseira do mesmo.
- Displasia (principalmente coxofemoral), infelizmente muito comum em várias raças hoje em dia e não é diferente nos bullies. A displasia tem alguns níveis a serem observados e para um diagnóstico mais conclusivo o cão deve ter de 18 a 24 meses. É uma doença hereditária, mas que pode vir de cães até mesmo uma quarta ou quinta geração. Então por mais que você tenha pais e avós “limpos”, mesmo assim ainda poderá nascer um filhote com esse problema, porque ele pode ter herdado do seu bisavô (por exemplo). Por isso é tão difícil controlar essa questão. Só uma seleção bem criteriosa e de alguns anos para minimizar ao máximo essa questão.
- Doenças de pele. Eventualmente escuto pessoas reclamando sobre isso. Ao longo destes sete anos, tivemos poucos problemas, mas também já tivemos alguns casos. São problemas que vão desde uma alergia ou pele mais sensível, até como algo mais complexo que seria uma sarna demodécica.
E em relação ao manejo diário de uma criação no Brasil, a primeira preocupação básica vem com os cuidados com três coisas: carrapato, pulga e mosquitos. Três pragas para todo criador e que podem matar seu animal. O Brasil é um país de clima tropical e com isso fica difícil esse controle, porque tempos estações meio confusas durante todo o ano. Em grande parte do Brasil sempre há calor suficiente para essas pragas se propagarem.
Outra doença dos infernos é a Leishmaniose, nos últimos anos tem virado uma epidemia nacional. Presente em quase todos os estados brasileiros. É de difícil controle porque a vacina é cara e a grande maioria da população não tem acesso fácil. Com isso, os casos só aumentam e o mosquito palha (transmissor) faz mais e mais vítimas. Ele pode picar um dog contaminado há 4 km da sua casa e depois vir pela corrente de ar e picar e contaminar seu cachorro de forma inesperada. Há alguns tipos de coleiras para proteção e a vacina que pode ser administrada após os 4 a 5 meses de vida.
08) Já produziu algum cão que é a personificação do seu objetivo na raça ou ainda pretende chegar lá?
O cão perfeito só existe na imaginação do criador. É o que mantem o criador sempre seguindo em frente, como a busca do inalcançável.
Idealizamos algo e trabalhamos para chegar o mais próximo disso. Agora esse conceito de perfeição pode mudar com o passar do tempo. As coisas mudam e o bom criador também deve se adequar ao momento atual, mas sempre respeitando suas raízes e conceitos.
Já produzimos vários cães que nos encheram de orgulho. Não vou citar o nome de um ou outro para não ser injusto com os outros. Mas produzimos vários vencedores e campeões de shows, ou mesmo cães que nunca estiveram em um evento, mas que são resultados brilhantes do que almejávamos.
09) Qual o seu entendimento atual sobre o plantel nacional e como estamos em relação aos americanos?
Honestamente o que vejo nos dias atuais no Brasil é um total descontrole em todos os aspectos referente à raça American Bully. Inúmeras pessoas pulando de cabeça no mundo bully sem o menor conhecimento de nada: zero!
A pessoa compra dois cães e já se intitula criador da raça. Ai esse tal criador nunca nem se quer leu o padrão da tal raça que ele diz criar. Experiência com manejo de canil, pior ainda. Todo dia é cachorro morrendo disso e daquilo. Ninhadas sendo perdidas por falta de conhecimento básico de criação.
Um bando de gente correndo atrás do “modismo bully”, mas nem se deram ao trabalho de ler, pesquisar, estudar. Fazer o mínimo para adquirir conhecimento antes de embarcar nessa viagem.
Ser criador é para poucos. Envolve muita dedicação, tempo, investimento financeiro, estudo, conhecimento da raça, da cinofilia em geral e do manejo diário. A rotina de um canil pode ser muito desgastante e poucos sabem lidar com isso.
Infelizmente no Brasil, mais da metade dos “proprietários” de bully, não sabem realmente definir se o cão dele é um American Bully ou um Exotic Bully, qual a categoria correta dele e por fim, se ele está dentro do padrão da raça ou não.
Acredito que nos próximos cinco anos muita coisa irá mudar e muitos aventureiros irão sair do jogo. E o ponto crucial para isso: saúde animal, aguardem.
Não há como comparar o mundo bully nos Estados Unidos com o Brasil. Independente se dentro do American Bully ou Exotic Bully. Aqui nos Estados Unidos tudo gira muito mais rápido, tudo acontece e há inúmeras opções ao seu alcance.
Aqui também há muitos problemas, também tem muita gente que não dá a mínima para buscar conhecimento e só visam o lucro imediato, mas independente disso, aqui é o berço de ambas as raças.
Não há como comparar e acredito que nunca estaremos (Brasil) no mesmo nível. Talvez um ou outro criador sim, mas de forma geral é uma comparação desleal.
10) Deixe uma mensagem final, um conselho, para quem está lendo essa entrevista.
Antes de qualquer coisa, busque conhecimento. Não interessa se você é ou quer ser um criador, ou se você apenas quer ter um bully como companhia.
Leia sobre a raça que você curte: seja um American Bully ou o Exotic Bully. Ambas são raças adoráveis e cães muito amáveis. Quanto mais você souber sobre a raça, sobre manejo e sobre a cinofilia em geral, menores as chances de você ser enganado e menor serão as margens para erros bobos.
Não siga o modismo porque você acha mais lucrativo hoje. Siga o seu coração, siga o que você acredita e gosta de verdade, porque seu maior lucro será o prazer que você terá amanhã.