A história dos Bulldogs (Bulldog Americano, Bulldog Ingles e Olde English Bulldogge)

A HISTÓRIA DOS BULLDOGS

A história do Bulldog Americano começa nas montanhas do Tibet, onde os cães Molossos ou os cães do tipo Mastiff surgiram. Eles descendem do grande lobo tibetano, os quais ainda existem no norte da Índia e Tibet. Provavelmente os chineses foram os primeiros povos a criar os verdadeiros Mastiffs, suas literaturas contêm referências de grandes cães de caça, de focinho curto e mandíbulas largas, por volta de 1.121 a.C.

Esses cães eram usados para caçar animais perigosos como tigres, javalis selvagens ou ursos. A marca registrada desses monstros caninos sempre foi o tamanho, a relativa lentidão (comparado com os Greyhounds e os maiores Terriers) e habilidade excepcional para se defender. Esculturas em pedras mostraram um cão musculoso, de pelo curto, sólido, e desprovido do excesso de pele como os Molossos de hoje.

Comparado com o Mastiff inglês de hoje, o molosso ancestral tinha menos da metade do tamanho e a conformação semelhante à de um American Pit Bull Terrier de ossatura pesada. Não há duvidas de que esses cães também eram robustos, com membros bem posicionados e sem a displasia dos Mastiffs de exposições de hoje.

Alexandre “O Grande” trouxe mais Mastiffs da Índia para a Grécia por volta de 333 a.C, a Grécia foi o centro da criação de Mastiffs por 700 anos, até que os cães ingleses se tornaram predominantes. Em aparência e talvez em temperamento o cão mais próximo do Mastiff grego seria o Swinford Bandog, que é uma combinação do atlético Mastiff Napolitano, Mastiff Inglês e do Pitbull. Os Swinfords têm corpos grandes (não enormes), musculosos, com cabeças sólidas de tamanho médio semelhante à de um Pitbull.

Júlio César pode ter encontrado os Mastiffs Ingleses quando ele fez o seu ataque inicial na Inglaterra em 55 a.C. A lenda diz que ele ficou tão impressionado com a ferocidade dos musculosos cães de guerra, que estavam sendo utilizados pelas tribos Celtas, que ele trouxe alguns de volta com ele. Supostamente os Celtas criaram os cães e os treinaram para morder o focinho dos cavalos da cavalaria. Os Bulldogs antigos segurariam os focinhos dos cavalos até que eles começassem a pular e derrubar seu condutor. Os Bulldogs Americanos e os American Pit Bull Terrier modernos que são capazes de imobilizar um cavalo desta maneira pesam entre 45 e 100 libras (1 libra equivale a aproximadamente 0,4536 quilogramas).

Os cães britânicos ancestrais provavelmente tinham o mesmo tamanho, e para os padrões da época estes cães eram enormes. Hoje são conhecidos pelo seu nome latino “Pugnaces”, e por causa da sua maneira de atacar pode-se dizer com confiança que os Pugnaces eram verdadeiros Bulldogs, talvez os primeiros do mundo. Os Pugnaces eram marrons claros com máscara preta ou eram tigrados escuros, cores semelhantes à do Bull Mastiff de hoje, no entanto os Pugnaces eram muito mais esguios. Se pudéssemos voltar numa maquina do tempo, as pessoas os confundiriam com um Pitbull grande ou um pequeno Bandog.

Algumas tribos Celtas também criaram os seus Pugnaces para caçar javalis selvagens, o que era considerado um animal mágico na Bretanha antiga. Eles eram usados junto com cães farejadores, pois são cães de aprisionar e não cães de faro. Os farejadores teriam contado com a proteção dos Pugnaces contra javalis ou ursos. A caça era uma experiência mística e religiosa para os Celtas.

Por volta de 300 d.C. os romanos reconheceram a superioridade dos cães britânicos para uso em batalhas. O imperador estabeleceu um oficial especial chamado “procurador cinófilo” que atuou fora de Winchester. Seu trabalho era o de encontrar o mais robusto e agressivo cão de combate na Bretanha e mandá-lo para Roma.

Eles embarcaram dois tipos de Mastiffs: 1- um cão mais leve (bem abaixo de 100 libras) para combate no Coliseu contra touros, lobos e pequenos felinos. 2- um cão mais pesado (em torno de 100 libras) para lutar contra lobos, grandes felinos e desafiadores exóticos como hienas. Há evidências de que os romanos na verdade se referiam aos Bulldogs como cães mais leves, e também relatos de que eles eram capazes de quebrar o pescoço de um boi e eram transportados em jaulas de ferro.

Os romanos amavam tanto estes cães que eles desistiram de importar cães de luta da Grécia, que havia sido a sua principal fonte por séculos. Isto deve ter sido um golpe para os criadores de cães gregos, porque o nome “Molossus” é derivado de uma região do norte da Grécia, chamada Molossia, cujo nome vem de uma tribo chamada Molossi. Ainda hoje, existem dois tipos de Mastiffs na Itália, que descendem dos primeiros Pugnaceos ingleses: os Napolitanos de 90 a 150 libras e os Cane Corsos abaixo de 100 libras. O Cane corso ainda é usado por fazendeiros italianos como um Bulldog de trabalho e deve ter seus ancestrais em comum com o Bulldog Inglês, Bulldog Americano e Pitbull.

Vários séculos depois o novo tipo de Mastiff chegou à costa britânica, trazidos para a Europa por nômades chamados Alanis, que foram expulsos da Ásia pelos Huns. Os Alanis vagaram pela Europa e finalmente se estabeleceram no que hoje é chamado de Albânia, uma região não distante da Molossia. Os seus cães ficaram conhecidos como Alants ou Alaunts na Inglaterra na idade media. Os Alants foram descritos como sendo brancos (algumas vezes com manchas escuras nos olhos), cabeça grande, focinho curto e eram excelentes para caça de Javalis selvagens. Este é o segundo tipo de Bulldog a ser criado na Bretanha. O Bulldog Americano moderno se encaixa perfeitamente na descrição acima. É possível que o Alant seja o ancestral mais direto do Bulldog Americano, Pitbull, Sour Mug, Bulldogue Espanhol e Dogo Argentino. Há descendentes diretos dos Alants vivos hoje e que são menos conhecidos. Nas regiões montanhosas entre Turquia e Índia há grandes Mastiffs brancos que ainda são usados em batalhas contra ursos.

Os cães ingleses eram submetidos a uma pressão de performance muito maior que seus primos da Europa. A seleção da criação não era feita diretamente pelo homem através de ezoognózia como é hoje com cães de exposição, mas por uma seleção dos que melhor executavam as lutas com outros animais, essa seleção durou mais de 1.450 anos. Por este vasto período de tempo, surgiu um cão de bravura inacreditável – Os Olde English Bulldogges.

Havia relatos de que esses cães eram capazes de segurar nos lábios de um touro, mesmo depois que suas vísceras tivessem sido arrancadas. Algumas vezes os açougueiros sujeitavam seus Bulldogs a níveis de crueldade inimagináveis para provar sua capacidade de combate, chegavam a cortar seus membros enquanto o cão estava preso mordendo seu adversário até que seu sangue fosse totalmente drenado. Um grande Bulldog seguraria a presa mesmo com a mutilação. Os Bulldogs e os Pitbulls de performance são os animais mais corajosos que surgiram na Terra. Existem relatos de que estes cães são mais corajosos do que os leões, pois, um leão normalmente não ataca um elefante adulto, já um Bulldog de combate realizaria um ataque se ordenado, ele poderia não sobreviver, mas morreria tentando.

Na era Elisabetana, algumas linhagem de Bulldogs se tornaram mais especializadas em batalhas, sendo menores e mais ágeis.  Quando a batalha contra touros se tornou mais popular, os Greyhounds e os Terriers provavelmente foram adicionados aos Bulldogs para aumentar a velocidade e reduzir o tamanho.  Um indício de superioridade dos Olde English Bulldogges era a sua exportação para todas as partes da Europa, apesar destes países já terem suas próprias linhagens. Charles V da Espanha importou 400 cães da Inglaterra para se preparar para a guerra contra a França em 1518. Estes cães destruíram os cães de guerra franceses, e se tornaram famosos por toda a Europa. Em 1.588 os Olde English Bulldogges foram exportados não só para Espanha, mas para Cuba e Flórida, onde eles eram usados em esportes agressivos. Foram os primeiros Bulldogs na América, e possivelmente um ancestral do atual Bulldog Americano.

Há duas razões para a variedade de tipos encontrada nos Bulldogs Americanos: 1- os cães não eram somente usados para batalha com touros, mas também em lutas contra ursos, atividades estas que exigiam deles tamanho e conformação diferentes. 2- uniformidade na aparência é um fenômeno moderno encontrado em cães de exposição, há 150 anos, antes das exposições caninas todas as raças mostravam grande variedade, os cães eram criados para performance, ninguém ligava para aparência.

Dentro da raça Olde English Bulldogge essa variedade era mais pronunciada nos séculos XVI e XVII porque estava no auge da batalha contra ursos na Inglaterra, o que exigia cães maiores e mais robustos, diferentes dos que lutavam contra touros. Então as duas linhagens cresceram de forma distinta nessa época. Em 1.609 um dramaturgo inglês menciona “BullDogs” e “BearDogs” como se fossem raças distintas. Os maiores, denominados “BearDogs” também eram chamados de “BanDogges” no séc. XVII. Os BanDogges eram descritos como enormes, feios e temerosos. Além das batalhas contra ursos e do trabalho de guarda eles eram usados em lutas contra leões, conforme o apetite inglês por esportes sangrentos aumentava. Algumas vezes eles eram colocados em arenas contra um homem armado com uma lança, sem duvidas um bom teste para o trabalho de guarda desta raça.

Em 1835 as lutas com touros, ursos e com outros animais foram proibidas na Inglaterra, havendo um rápido declínio dessas linhagens.  Com isso a prática de combate entre cães foi se tornando extremamente popular, cuja proibição somente se deu na virada do século XIX.  Supostamente na luta entre cães, o sangue Terrier teria sido necessário para eliminar a tendência do Bulldog de pegar um objeto e segurar, o que tornaria a luta entre cães entediante. Além disto, o menor tamanho aumentava a resistência e agilidade dos cães e faziam com que as lutas durassem mais. O Terrier provavelmente mais utilizada foi o extinto terrier branco Inglês e Fox terrier. Os Bulldogs foram cruzados com Terriers para fazer Pitbulls ou cruzados com Pugs para fazer o “Sour Mugs”, e com isso estavam se tornando extintos em seu país de origem. Muitos foram exportados para a América para fazer Boxers, Bulldogs Americanos e PitBulls.

Em uma tentativa de salvar este símbolo da coragem inglesa, o primeiro show canino para Bulldogs foi realizado em 1.860. O padrão usado foi uma forma levemente exagerada do cão de trabalho original, esses cães deveriam ter pernas longas e se parecer com Bulldogs Americanos de focinho curto ou Boxers de focinho médio. A diferença entre os padrões modernos e as linhas dessa época, é que os criadores levaram a criação tão a sério, que os cães eram primeiramente funcionais, sendo a preocupação com a conformação para exposições, secundária.

Em 1.870 os tipos intermediários de “Sour Mug” começaram a ganhar Exposições, cães que claramente não tinham o biotipo de cães funcionais. Desde então a maioria das linhas de Bulldog de exposição foram se tornando cada vez mais exageradas e menos saudáveis, enquanto uma minoria de criadores continuava a produzir Bulldogs funcionais. Com isso houve uma grande pressão para que o padrão permitisse uma aparência “extremada”. Um violento debate ocorreu no final do século 19 a respeito da mudança do padrão, assim como acontece hoje em dia nas comunidades de Bulldogs.

Hoje na América poucos criadores querem somente uma leve tipicidade suficiente para distinguir os Bulldogs Americanos dos American Pit Bull Terrier, enquanto a maioria quer cães realmente grandes, extremos, verdadeiramente semelhantes a Bulldogs Ingleses gigantes. No final do século XIX os criadores de Bulldogs funcionais da Inglaterra desafiaram os criadores de “Sour Mug” a fazerem provas de caminhada de longa distancia. A questão não era se os “Sour Mugs” extremos poderiam vencer os menos extremos, mas que eles não seriam capazes de ao menos concluir um trajeto de 10 milhas. O primeiro desafio resultou no colapso do Bulldog “extremado” depois de duas milhas. Essas demonstrações de falta de utilidade não serviram pra mudar nada, pois, o “inbreeding” em cães deformados se tornou crescente. A figura do cão funcional estava cada vez menos associada aos cães ingleses de exposição.

Em 1.898 a maioria dos criadores, que criavam cães para exposição, ganharam o debate e o padrão inglês deliberadamente eliminou a representação do Bulldog funcional, e fizeram outras mudanças que permitiram aos criadores de cães para exposição transformarem rapidamente “os guerreiros” de antigamente, na caricatura dos Bulldogs Ingleses de hoje. E para transformar os seus cães ainda mais rapidamente, o Pug foi reintroduzido extensivamente por cerca de mais meio século. A introdução do Pug foi considerada a culpada pela perda da funcionalidade dos antigos Bulldogues Ingleses (Olde English Bulldogges).

Nos séculos XVII e XVIII os colonizadores ingleses levaram para a América seus Bulldogs de Performance e os BearDogs por três razões: Para controlar a pecuária, caçar animais selvagens e para proteção pessoal. Estes colonizadores não tinham a vaidade de usar seus cães em combate contra ursos e touros para entretenimento como seus primos do velho continente. Então eles criaram seus Bulldogues para serem menos violentos e mais fáceis de serem treinados.

Estes cães se tornaram conhecidos por muitos nomes diferentes, conforme as variedades regionais. A maioria dos nomes eram combinações ou variações dessas quatro palavras “Old”, “English”, “White” e “Bulldog”, como por exemplo, Old English White, White English Bulldog, Old English ou simplesmente (e mais comumente) Bulldog. Os cães de algumas linhagens não eram brancos, nem predominante brancos. Estes cães eram chamados de “Brindle Bulldogs”. No Sul dos Estados Unidos a comunidade negra manteve os “Brindle Bulldogs” e ainda há um criador negro atualmente em Ohio que mantém essa tradição viva e ainda cria Bulldogs tigrados e dourados.

Preconceituosamente os fazendeiros brancos achavam que os Bulldogs brancos eram mais inteligentes que a versão colorida. Há três razões válidas para a criação de Bulldogs brancos: 1- branco é uma cor altamente recessiva e seria um garantia contra cruzamentos entre raças, 2 – a cor branca era mais visível na caça contra javalis selvagens, especialmente a noite, 3 – criando o branco eles estariam voltando à criação dos Alants. Por outro lado há muitos problemas de saúde associados aos cães brancos e esta é uma cor ruim para um cão de guarda. John D. Johnson nomeou a raça de “American Bulldog”.

Durante a infância e adolescência do Sr. Johnson, nos anos 20 e 30, esses cães eram conhecidos como Pit Bulldogs no norte da Geórgia, porque algumas vezes eles eram usados para lutar contra cães e grandes animais selvagens nos ringues. Ele foi a primeira pessoa a vendê-los ao publico em geral nos anos 50, então o nome que ele usou “American Pit Bulldog” foi o primeiro nome que se tornou vastamente usado fora do Sul rural americano. Em 1.985 Johnson percebeu que as pessoas estavam confundindo essa raça com o American Pitbull Terrier, então ele mudou o nome da raça para American Bulldog. O amigo do Sr. Johnson, Joe Painter também contribuiu para a mudança do nome. No inicio dos anos 70 vários criadores resolveram reconstruir e resgatar a raça, nomes esses que são encontrados nos pedigrees de hoje em dia, por exemplo Scott, Williamson, Bailey, Tate e Johnson. Eles foram os responsáveis por preservar o Old English Bulldog e fazer com que a raça permaneça até hoje.  Passaram a existir três linhagens principais do Bulldog Americano: Johnson, Scott e Painter.  1- A linha Johnson é caracterizada por ossatura pesada e corpo grande, cabeças grandes e quadradas, no geral possuem o fuço curto, mordedura prognata inferior definida, possuem rugas na face, cotovelos um pouco abertos para fora e o peito muito amplo. Esse tipo tem a inserção de sangue dos “Sour Mug”, o que os deixam com o aspecto mais distante do American PitBull, são conhecidos por terem mais “tipicidade”.  2- A linha Scott tem o tipo um pouco mais leve que os do tipo Johnson, tem o focinho mais longo, eles possuem um prognatismo inferior leve e podem não ter prognatismo inferior.  3- A linha Painter possui pernas mais longas e ocasionalmente possuem o focinho mais curto que os do tipo Scott, porém com estrutura similiar. A maioria dos Painter foram desenvolvidos como cães de briga e podem ter o temperamento mais agressivo que os demais cães das linhas de performance.

Os fundadores da raça Scott e Johnson compraram cães uns dos outros e cruzaram cães de suas linhas. O Painter comprou tanto cães do Johnson como do Scott. O Johnson começou a criar nos anos 30, o Scott nos anos 60 e o Painter nos anos 70. Somente o Johnson e o Scott continuaram criando a raça, e essas duas linhas posteriormente se tornaram a base para o padrão da raça.

No inicio anos 80 houve um conflito entre o Scott e o Johnson, que começaram a ficar menos amigos depois que começaram as exposições da raça nos Estados Unidos pela NKC (National Kennel Club), na qual um tipo começou a ganhar do outro.  Depois de muita discussão entre a comunidade dos criadores foram então criados dois padrões diferentes para a raça: A linhagem dos cães mais leves e de performance teve seu tipo reconhecido como “Standard” (Figura 1) e os cães mais pesados foram reconhecidos como sendo do tipo “Bully” (Figura 2).

Figura 1 – Bulldog Americano tipo Standard

Figura 2 – Bulldog Americano tipo Bully

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