Quarta entrevista, da série Perfil Bully, para conhecermos melhor os criadores que são destaque no Brasil. Apresentamos Rudney e Ronaldo – US Bully Force:
Pioneiros do American Bully no Brasil, são sinônimos de qualidade e vanguarda. A dulpa Rud & Ronaldo formam o US Bully Force, a principal base de sangue da raça no país, presença marcada na maioria dos canis e pedigrees.
Legends never dies!
*entrevista originalmente publicada em outubro de 2015
1) Qual a visão geral sobre criação de cães?
A criação de cães é uma arte. Um hobby, que apenas em algumas vezes, e por algumas pessoas, pode se transformar em trabalho e/ou profissão. Dizemos isso por que criar cães é algo que exige extrema responsabilidade acima de tudo. Você lida com vidas, não só a vida dos cães, mas também a vida e sentimentos de seus clientes.
Gostar de cães, ter carinho ou amor por eles, ter cursado veterinária, ter espaço e dinheiro, nada disso sozinho te habilita a criar cães. Você tem que reunir essas e outras características para estar apto a ingressar nesse mundo.
Outro ponto que costumamos dizer é que criar cães não é como fazer um bolo. Você não junta os ingredientes certos e pronto, seu bolo ficará perfeito. Existe sempre o “fator x” que pode fazer a receita desandar ou deixar o bolo, que você mesmo não esperava tanto, muito mais bonito e saboroso.
2) Como conheceram o American Bully e qual foi o primeiro impacto com a raça?
Conheci a raça em 2004 pela internet. Na época tinha trazido o Dynamic Dude, um APBT da linhagem Castillos e pesquisava sobre os Pits quando me deparei com os primeiros cães azuis que tinha visto e que não eram AST. Eram ainda chamados hora de Pits, hora de American Bullies, nos sites e fóruns, mas tratavam-se de cães Razors Edge e Gottiline.
Os primeiros a me impressionarem foram o Short Shot e Too Short, de um canil chamado Sharkline. O Remy Martin e seu filho Jack Daniels do Fabian, que hoje é o Remyline. Os cães do Mugleston Farm Pits, principalmente o Lobo que era uma aberração e os cães do Richard, Juan Gotti e Monster.
Passei a “devorar” tudo que encontrava sobre as linhas, os cães, as origens. Passei a tentar contato com os canis pra trazer algum cão, mas já naquela época eram extremamente caros. Enquanto havia pago U$ 1.200 no Dude, qualquer filhote desses Blue Pits ou American Bullies não saia por menos de U$ 3.500 – U$ 5.000.
Em 2005 numa viagem para os EUA, o dono do canil Cold Steel, Luis Magana, que havia me vendido o Dude e se tornado meu amigo, me levou pra conhecer o Fabian e o cão que era a sensação da época, o Remy Martin. Foi amor a primeira vista. Nunca tinha visto nada igual. Lindo, perfeito. Liguei de lá mesmo pro Ronaldo e disse: precisamos levar essa raça pro Brasil.
Meses depois o Magana comprou uma cobertura do Remy para usar numa cadela chamada Betty Boop e me ofereceu um macho da ninhada por um preço que podíamos pagar. Foi assim que, pelo menos até onde eu sei, em 2006 chegou ao Brasil o primeiro American Bully, que foi o Hemi of Bully Force. Filho do Remy Martin x Betty Boop, que por sinal continua vivo e cheio de saúde.
3) USBF é sinônimo de pioneirismo – desde a introdução da raça, diversas linhas de sangue e cruzamentos. Vocês sofreram algum tipo de preconceito e “perseguição”?
Todos. Hehe!
Quando trouxéssemos o Hemi fomos apontados por todos, repito, todos os demais criadores de Pit da época como idiotas. Que aquele “estilo de pit” baixinho e curto não pegaria no Brasil. Que no Brasil a galera gostava de “Monster Pits”. Que tínhamos jogado dinheiro fora, etc, etc, etc.
Foram anos tentando explicar que aquilo não era “um estilo de pit”, mas sim uma raça nova. Foram anos de brigas travadas nos fóruns do extinto Orkut. Foram anos como os otários que haviam trocado o Red Demons, canil de Pit que o Ronaldo fundou e que era um dos melhores do país, por um sonho que só daria certo nas nossas cabeças.
4) A visão sobre o American Bully mudou desde que iniciaram na raça?
Sobre a raça em si não. Ainda achamos que a raça é perfeita para o que se propõe: ser um cão de companhia, carinhoso, robusto e volumoso.
O que mudou foi o jeito como enxergamos as coisas e os bastidores por trás da raça. Já fomos mais radicais, mais intransigentes, mais cegos e românticos no que diz respeito às misturas, pedigrees falsos, “segredos”. Hoje aprendemos a sermos mais abertos e ao mesmo tempo duvidar de tudo.
A raça movimenta muito dinheiro e onde existe dinheiro existe ganância e existe coisa por debaixo do pano, gente querendo levar vantagem e obscuridade. Vai da índole de cada criador, de qual grupo vai querer fazer parte.
5) Qual foi a importância de ter conhecido muitos Ícones Bullies, de diversas épocas, nos Estados Unidos?
Foi de imensa importância. Numa época onde a raça era nova e desconhecida aqui no Brasil e não existia exemplares bons o suficiente para ilustrarem a verdadeira imagem dos American Bullies, ter tido a oportunidade de conhecer praticamente todos os ícones da raça nos fez, desde cedo, estabelecer nossos padrões e objetivos.
Nos deu um referencial, que acredito, que muitos poucos criadores tenham no Brasil. E não entendam isso como critica aos outros ou soberba nossa, mas sem ter visto outros cães e ícones, fica difícil julgar o que tem no quintal e saber onde quer e precisa melhorar.
Eu vi desde Bullseye, que foi o menor ícone bully que conheci à Panic, que pra mim é o epítome do mundo bully. Nada se compara a ele em nenhum sentido. Vi o volume de cabeça e osso do Legend, lado a lado da perfeita e massa compacta do Golden Boy. Vi a evolução dos dois no Kryptonite.
Vi o cão que revolucionou o desenho de cabeça dos Gottiline, o Kingpin G2 e seu filho Marcello, e depois vi o Miagi, que revolucionou mais ainda o padrão buscado nas cabeças. Vi o Romeo, Nightrain, Ichiban, Barbee e a perfeição em forma de cão chamada RIP Dax.
Do lado dos Razors Edge, vi cães perfeitos pra época como: Paco, King Kamali, Remy e Pokemon. Desenhados à mão. Corretos, limpos, com temperamento de Pit e perfeitos do ponto de vista do padrão da raça.
Foram muitos realmente, das mais diversas linhas, vertentes, tamanhos e épocas. Isso nos deu uma certa vantagem, acredito eu, por termos conseguido visualizar primeiro onde queríamos chegar e o que usar pra atingir aquilo.
6) Já produziram algum cão que é a personificação do seu objetivo na raça ou ainda pretendem chegar lá?
A Puma, para nós, é perfeita. Ela é o que buscamos. O equilíbrio perfeito entre tamanho e volume. Robustez e movimentação. Temperamento.
7) O que analisam em um exemplar para utilizá-lo em seu programa de criação?
Sangue, produções – se por acaso já tiver. Capacidade de impressão das suas principais características. Assertividade e aproveitamento das ninhadas. Saúde e movimentação.
8) Como avaliam os trabalhos que foram feitos utilizando o sangue USBF, que é uma das bases dos criadores brasileiros, seja com cães importados ou “sangue nacional”?
No geral muito bons. O USBF se orgulha de ter produzido cães que continuam produzindo bem nas mãos de seus proprietários. Acho que esse é um dos nossos principais méritos.
Vários canis que usaram, e usam cães saídos daqui, têm apresentado produções muito acima da média, independente do sangue que tenham usado em combinação.
Não vou citar nenhum, para não ser injusto com outros. Mas de modo geral, somos muito satisfeitos e felizes com o legado que o USBF está deixando.
9) O que pensam sobre plantel nacional e seu futuro?
Melhorou muito, demais mesmo. Temos diversos cães bons no Brasil, capazes de melhorar ainda mais as próximas gerações e formar, no futuro, um plantel brasileiro de alto nível.
10) Deixe uma mensagem final, um conselho, para quem está lendo essa entrevista.
Trust the Blood. Confiem no sangue. Don’t over breed. Não cruzem demais. Não tenham muitas ninhadas. Não super populem o país de exemplares da raça. Vamos cuidar do futuro da raça.
Não importem somente pra ter um cão importado. O Brasil já produz muita coisa boa. Se realmente optarem por importar, pesquisem. Invistam tempo e dinheiro nessa importação. Tragam algo que some ao plantel nacional.
Estudem suas cruzas. Não cruzem por cruzar. Se pensarem numa cruza, mas não tiverem a intenção de segurar pelo menos um filhote dessa cruza para o seu plantel futuro, não realizem a cruza. Isso é sinal que nem você acredita nela.
Invistam tempo e dinheiro nos seus cães. A propaganda é a alma do negocio, mas a melhor propaganda é seus clientes e até mesmo seus concorrentes falarem bem do seu trabalho.