Sexta entrevista, da série Perfil Bully, para conhecermos melhor os criadores que são destaque no Brasil. Apresentamos Luiz Ubiratan Junior – Bira Bully Creator:
Do centro-oeste brasileiro e criador de American Bully desde 2013. Luiz Ubiratan Junior é referência quando se trata de American Bully Padrão, sendo um dos maiores investidores em linhas americanas tradicionais na busca de seguir o padrão original da raça.
Acompanhe essa entrevista com o responsável pelo Bira Bully Creator, um criador de pura emoção que conta sua paixão e história pela raça, assim como suas alegrias e dificuldades na criação.
Por Gustavo Josetti – 20 de janeiro de 2021
01) Como conheceu o American Bully e qual foi o primeiro impacto com a raça?
Conheci a raça por um acaso do destino. Desde a década de 1990, quando criava American Pit Bull Terrier, pensava em tirar o temperamento explosivo e agitado e agregar um pouco mais de peso nos Pit Bulls.
E eu sempre tive uma admiração pela estrutura física dos bulldogs, sempre me chamaram a atenção, mas não eram cães tão comuns no meio em que eu circulava – também não os achavam bonitos, as rugas precisavam ser preenchidas e faltava colocar rabo.
Como na época morava em apartamento, eu não tinha muita liberdade no apartamento da minha mãe para criar meus cães. Criava na desobediência, abaixo de brigas constantes, não só com a minha mãe, mas com toda a vizinhança. Então tirar ninhadas e fazer todo o processo de seleção era algo impensável, apesar de ter tido duas ninhadas dentro do apartamento.
Quando me mudei para minha casa, cheguei a ter dezoito Pit Bulls, mas logo casei e tive filhos, o foco mudou, mantive um casal de Pit Bulls: pai e filha e esqueci do meu projeto. Quando me separei, voltei a morar em apartamento, levei o macho e deixei a fêmea para cuidar da casa. Não me adaptei novamente em apartamento, queria enfim ter cães, as tão sonhadas raças da infância: Bull Terrier, Golden Retriever, Labrador e sempre meus Pit Bulls.
Lembrei do meu projeto dos anos 1990 e decidi fazer a cruza, só que agora eu pensava em preencher as rugas dos bulldogs e colocar rabo e “pulmão” – o pensamento foi contrário ao anterior, que era alterar os Pit Bulls, agora pensava em preencher os bulldogs, pois já não tinha a energia de antes para lidar com os Pits e havia conhecido dois excelentes exemplares de bulldog: um Bulldog Inglês e outro Bulldog Francês, dois monstros.
Foi então que fiz a primeira cruza entre uma cadela American Pit Bull Terrier de linhagem Mayday, que era incansável, puro “pulmão”, em um Bulldog Francês de um amigo, que era monstruoso. Nasceu um casal, eu fiquei com a fêmea e o dono do bulldog com o macho.
Depois disso eu estava me preparando para a cruza da fêmea, desse primeiro cruzamento entre Pit Bull x Bulldog Francês, com o Bulldog Inglês e precisava de donos para o excedente dos filhotes, seguraria um casal e a dona do Bulldog Inglês não queria filhotes.
Foi então que um dia eu estava em uma loja de bicicletas de amigos falando sobre o meu projeto, perguntando se alguém iria querer um filhote, quando um rapaz escutou a conversa e veio me perguntar o que eu pretendia com a cruza. Contei e então ele me disse que isso já existia pronto.
Isso foi no dia 15/09/2013 – não me esqueço da data, nem da roupa dele e nem da minha – por que aquele dia realmente foi marcante para mim, quando vi as fotos fiquei doido.
Eu estava em uma fase de isolamento social, procurando me encontrar, não tinha celular, televisão, internet, nada disso!
Quando conheci a raça fui obrigado a providenciar tudo isso: telefone, computador e internet para ir em busca de conhecimento sobre o American Bully. Fiz contato com o Gustavo Jube, um amigo com quem fazia intercâmbio de Pit Bulls e Bull Terrier e ele me mandou o contato de um criador aqui do Brasil. Então minha primeira fêmea chegou dia 29/09/2013 – quatorze dias depois de conhecer a raça.
Meu primeiro impacto foi surpreende por que a sociabilidade da cadela, já adulta, com os demais cães e sua devoção por mim eram inigualáveis. Não havia nenhum outro cão em meu quintal com igual alegria, eu realmente fiquei apaixonado, era muito além do que eu esperava.
Uma observação importante é que sempre tive olhos apenas para temperamento dentro do que a raça era proposta. Antes dos Pit Bulls, também em apartamento, tive Dobermans, ninguém ligava para estrutura, tinham que ser obedientes ao extremo e corresponder as demais expectativas para a raça, era assim que sempre selecionei meus cães.
Passaram dez dias eu havia comprando um casal de bullies aqui no Brasil e um nos Estados Unidos.
02) Sua meta de criação sempre foi alinhada ao padrão exigido pelo American Bully ou seu gosto pessoal coincidiu com isso?
Eu era um cara dos Pit Bulls da década de 1990, naquela época criávamos em apartamento, éramos todos moleques, conhecíamos criadores adultos na época, mas nossa criação era marginal. Um bando de adolescentes, cruzando cães embaixo dos blocos, com suas cadelas parindo dentro dos quartos. Só buscávamos que os cães, quando adultos, cumprissem suas funções: escalar, nadar, pendurar, etc – não existia padrão, conheci Pit Bull com padrão de pista recentemente, então quando conheci os American Bullies nem sabia o que era isso.
Durante minhas pesquisas parava sempre nos sites mais bonitos. Meu primeiro contato na gringa foi com o Chaves Bully Camp e tinha um outro site bem bonito, que agora não me recordo qual, com cães totalmente exóticos.
Quase comprei o Bolow (Thebullycampline), o Soto me mandou fotos e quando ele me enviou um vídeo não eu gostei do cão. Foi então que cheguei na Silvia, esposa do Zenen, dona do Pokemom e Fonzareli. O Fonzi era justamente o que eu buscava.
Importei meu primeiro casal, no momento não pensava em criar comercialmente, era só “cãopulsão” mesmo. Meu primeiro contato comercial com cães foi com os American Bullies. Eu comprava ninhadas inteiras de Pit Bulls para selecionar o temperamento que queria, sempre fui muito compulsivo.
Então quando tive contato com a Silvia foi aí que vi que existia um padrão, mas confesso que nunca foquei nisso. O que eu não queria era ter cães parecidos com bulldogs.
Foi assim que selecionei meu plantel: focando em que eu não queria, muito mais do que eu queria. Até porque como não havia muito material disponível, era uma raça nova e os cães mudavam muito de uma geração para outra, não tinha como eu almejar o que estava buscando.
Só dava, acredito que até hoje, para almejar o que não quero. Claro que quando falo isso não me refiro a cor, que é a única coisa que eu até hoje consigo desejar em objetivo dentro da raça enquanto busca. Tenho visto coisas inesperadas acontecerem aqui no quintal.
Então sim, foi coincidência o alinhamento ao padrão da raça. Claro que com o tempo fui me tornando mais sensível ao padrão: como linha de dorso, aprumo, angulação, etc.
03) Pelo fato de você ter investido muito na linha de sangue do Bashar Daoud (Muscletone Bullies) as pessoas te cobram para que seus resultados se assemelhem aos dele? Você considera que os resultados obtidos desses cães estão dentro do que você idealizava?
Eu gosto demais de estatística como um todo, então quando vejo o que eu consegui com a linha Muscletones, está muito bem estatisticamente ao meu ver.
A Muscletone Stella não cruzou somente uma vez com o Gottyline’s Dax, o Magoo tem irmãos de ninhada também, os conheço e sei muito bem o que foi possível por lá e o que eu alcancei por aqui.
A Muscletone Mz Berry, irmã de ninhada da Stella, também cruzou com o Gottyline’s Dax, conheço os filhos e netos dessas cruzas, então, sei bem o que um cão como o Marlboro representaria na mão do Bashar Daoud por exemplo.
Não sinto cobrança, até por que, acho que as pessoas também reconhecem os cães que nasceram por aqui – qualquer um com o mínimo de dedicação em pesquisas sabe do que estou falando. Tampouco o Bashar mandou cães somente para mim, chegaram poucos, mas também chegaram outros cães Muscletones por aqui para outros criadores. Aliás, de duas uma: ou as pessoas conhecem os cães que nasceram aqui com a linha ou elas de fato não conhecem, ou uma coisa ou outra. Claro que tem os “torce-rabo” que descreditam em prol de comércio.
A minha busca no Bashar foi justamente uma linha fenotípica de American Staffordshire Terrier por que, a meu ver, apesar da impulsão que a Gottyline tenha dado aos cães do Bashar, quem manda lá é o HOF Man On Fire Denzel.
E o que ele conseguiu lá, para mim, é justamente a mudança dos Staffordshire Terrier para os American Bullies, juntando o Denzel com o Dax.
Um dos motivos da minha não-dedicação à essa linha foi justamente me desassociar da linha Muscletone, criar uma própria. Não queria tirar cães com cara dos cães do Bashar – essa associação que antigamente era bem presente, ela sim me incomoda.
04) Quais características ou dificuldades percebeu nas linhas de sangue (Daxline, Muscletone, Kurupt) que importou? Você enfrentou algum problema de manejo, problema congênito ou perda de características ao desenvolver essas linhas?
De todos os cães que importei o conjunto que mais me agradou foi a Zenstyles Flor de Lotus, mas tive problemas emocionais relacionados a Flor de Lotus que me fez abrir mão dela.
Ela quase morreu ao correr atrás de um motoqueiro e foi a única vez que tive medo de perder um cão. Falo de medo, não estou falando de tristeza por perder um, falo de medo, como “caramba, a cadela poderia ter morrido, ou posso perdê-la”, então decidi destiná-la para um lar para viver como pet (companhia). O que quero dizer, é que se tinha uma linha que poderia ter sido foco na minha criação era a dela.
O Daxline’s Jesse James me impressionou negativamente pelos aprumos, a Short Muscle’s Golden Girl negativamente com a cabeça, o Bira Bully Billy The Kid (Kurupt Blood) o temperamento, a Muscletone Ms Magoo o fenótipo imutável da Muscletones juntamente com sua falta de aptidão materna, diferentemente da sua irmã de ninhada que eu trouxe depois prenha do Magoo.
Eu não tive problemas específicos com linhas, mas sim com indivíduos. A Golden Girl latia incansavelmente, o Billy The Kid “sentava o dente” em quem fosse separar alguma confusão no quintal, mesmo que ele não estivesse nelas – mordeu todos aqui, menos a mim.
Não dá para manter no canil um cão que quando tenha algum “B.O.” morde o tratador, não dá para chegar no canil e ter um cão que não para de latir. Esses foram problemas pontuais com cães que selecionei, e fui selecionando o que não queria.
Uma coisa que precisa ficar clara é que não busco uma cópia de alguma linha e nem cópia de resultados de outros criadores. Logo perder características e fazer uma mutação é justamente o que busco.
Com o Jesse James, quando foi selecionado para vir, seus critérios decisivos foram: era tricolor e apesar de ser filho do Gottyline’s Dax vinha com algo inexistente aqui, E TAMBÉM pouco visto por mim lá na gringa, que era o Contagious Pits Tha Fresh Prince.
Apesar de pouco, ou quase nenhum material disponível sobre Fresh Prince, me foi atestado que era um bom cão, filho do King Kamali, também tem como ancestral o Remy Martin, cães que eu sempre vi em pedigree de indivíduos que eu admiro.
Foi então na segunda cruza dele com a BBC Glock, que nasceu a Bira Bully Feeling Good, que não sei como explicar, mas desde o primeiro dia de vida, que literalmente foi um parto para fazê-los mamar, ela me prendeu a atenção.
Daí em diante que passei a ter mais olhos para um fenótipo já implantado no canil com os filhos tricolores do Jesse James. Foi a Feeling Good que me permitiu deixar o “padrão”, o tipo que o Jesse imprimia nos Tricolores permaneceram e foram intencionalmente buscados no plantel.
05) Mesmo investindo em linhagens dentro do padrão você utilizou o sangue Miagi (Tarantino e Champagne) e Problem (Crazy Dutch) em seu plantel. Não é controverso utilizar sangues, considerados exóticos, que não têm uma direção voltada ao padrão American Bully?
Claro que é. O BBC Tarantino veio parar aqui porque quis comprar a BBC Glock e ela não foi cedida à venda. Fui informado que seria a última cruza dela e como ela é uma cadela única tive que abrir mão do que acreditava e comprá-lo para não perder sua genética.
O que ocorreu foi que ao chegar para buscá-lo, na realidade havia comprado uma segunda escolha, me foi cedido a primeira escolha, eu poderia trocar. Na dúvida de qual ficaria menos exótico, fechei a compra dos dois filhotes e antes de ir embora pedi para vê-la (Glock).
Durante minha admiração à ela, me foi dito que se eu quisesse também poderia levá-la, que me venderia. Como palavra minha não faz curva trouxe todos: a Glock e seus dois filhos. O irmão do Tarantino logo foi vendido e ele perdurou por aqui, tentei vendê-lo por algumas vezes e não consegui bons acordos.
Quando me vi com a linha Muscletone imutável no canil resolvi usá-lo, gostei do resultado e resolvi estender a algumas outras fêmeas.
A Barton’s Champagne também foi um acaso. Havia comprado uma filha do Muscletone’s Magoo prenha do Muscletone Mr Bean que veio a falecer e na busca de outra fêmea para trazer a cobertura me foi oferecida ela. Só tive acesso ao pedigree no dia do embarque e foi uma briga que rompeu relacionamentos – pode ver que depois disso nunca mais houve nada (compra de sangue Muscletone).
Mas enfim ela chegou e o resultado dos filhotes me agradaram, quesito tamanho, pois, estava uma bagunça sobre em qual classificação meus cães se enquadravam com a saída da variedade Extreme.
Resolvi usá-la como uma das ferramentas para classificar meus cães em (variedade) Pocket, também o motivo pelo afastamento do Billy The Kid (altura) das produções.
Um ponto importante, em ambos os casos, é que nenhum deles alterou as características físicas dos meus cães. No sentido de fisionomia ninguém ficou com cara de bulldog por aqui por causa dos dois.
O Crazy Dutch, quando recebi as fotos dele, fui um dos primeiros a saber de sua existência, o primeiro a usá-lo. Além do fenótipo novo, que me ajudaria “mutar” (mesclar, fazer algo novo em minha criação) ele teve um detalhe que me chamou a atenção: o pedigree com Contagious Pit escrito e também Gottiline, que para mim são assinaturas que respeito.
Nem sabia, até o presente momento, que tinha Calb Problem em seu pedigree e que diferentemente do Mr Miagi: “nem sei quem é”. Nunca acompanhei nada sobre ele, não sei de quem é filho e nem o que produziu por aí.
E um ponto importante em relação a essa pergunta é que para mim vale o que faço aqui como experiência e aprendizado. Então, em relação aos cães e linhas que trabalhei e trabalho dá para saber quais tem ou não bulldog no sangue. Eu, por exemplo, desconheço algum cão que tenha nascido em meu plantel que tenha aparência de bulldog. Os que desconfiei que tinham, fui afastando do plantel.
Foi o que fiz com o Cyborg Kosmos, assim que chegou, deu um mês aqui já sabia que tinha bulldog e nunca foi utilizado em meu canil.
E em relação ao Dutch meu projeto com ele ainda está de pé, sempre esteve, ainda irei realizar algo com ele sim. Infelizmente o casal de filhos dele que reservei para meu canil, da única ninhada que nasceu das 3 cruzas que realizei, acabei vendendo por que recebi uma proposta irrecusável na época. Também por que as principais cadelas (Botswana e Ms Magoo) que cruzei não pegaram barriga, então não estava muito animado.
É bem isso mesmo, eu sempre falo em ter coerência, às vezes sou incoerente. Aliás, é coerente ser incoerente. Mas em nada acho que algum desses cães tenham desviado meus resultados, do que sempre propus e busquei na raça.
06) O que pensa da diferença do tamanho dos cães de base/fundação do padrão do American Bully para os cães cada vez menores que vemos hoje? Você acha que os cães Pocket (cada vez menores) e Micro vão ser um caminho sem volta?
Para um criador que segue uma linha de trabalho, faz um trabalho contínuo, sem mudanças repentinas em seu quintal, é sim um caminho sem volta. Portanto os criadores que estão sempre adquirindo cães que estão fazendo sucesso também.
Mesmo eu – falando da minha experiência, aliás, tudo que falo é baseado em meu trabalho e resultados práticos, intencionais ou não – tentando buscar o tamanho inicial dos meus cães (Extreme de altura Pocket), como: Ms Magoo, Glock, Jesse James, Golden Girl não estou conseguindo. Farei uma última tentativa final do ano, mas acho que é sem volta sim.
Claramente pela consanguinidade, todos os meus cães em sua genealogia possuem parentesco em comum, é impossível que essa diminuição não ocorra. Eu busquei cães de linhas mais tradicionais e não obtive sucesso. Tenho uma última cardada a ser dada final do ano, vamos ver.
Agora o que eu acho em relação aos grandes criadores que são referência, criadores com uma continuidade/objetivo dentro do seu trabalho, acredito que sido algo intencional. Acho que essa diminuição de tamanho foi algo que ocorreu natural e inesperadamente.
E acho que em função dos criadores que são referência, obtendo esses resultados, mesmo não sendo intencionais, gerou uma busca ou desejo nos criadores que os tem com referência, criadores que buscam réplicas de criadores de destaque. E em cima disso, uma intensa publicidade, claro que, ao ver que cabem em lugares (apartamento) que os extremes não cabiam, comem um terço também, são mais meigos, isso gerou um novo mercado e uma nova demanda. Mas nem de longe causam o mesmo impacto que os monstros geram.
07) Por produzir e seguir, como poucos, o padrão do American Bully ABKC qual a sua visão sobre a proposta de separação e criação da raça Exotic Bully pela IBC? Você acredita que exemplares realmente abulldogados, fora do padrão e criadores que atualmente queiram inserir bulldogs devem seguir seu rumo junto com a raça Exotic Bully?
Fora de qual padrão? Se for o padrão da raça American Bully é preciso se fazer um novo padrão, para que assim se chegue em uma nova raça. A proposta é outra, logo não tem porque seguir padrão da ABKC para criação da raça Exotic Bully.
A proposta da Bia foi por mim apoiada desde o início. Desde quando ainda havia brigas entre as entidades que estavam se formando no Brasil, fui um dos primeiros a aplaudir a postura dela.
É claro que todos façam o que seus anseios pedem, ninguém é obrigado a seguir ninguém. O que não pode é o criador comercial, confundir o consumidor leigo e dizer que Dálmata e Pointer Inglês são os mesmos cães – por que não são.
Criadores de exóticos têm que fechar suas portas quando forem procurados por consumidores de American Bully. Em vez de dizerem: “vem cá que vou te contar uma estória para boi dormir” e dizer que é a mesma raça, isso é errado, ou a proposta de se criar uma nova se perde.
Tem que haver ética nesse momento, não vender Dálmata como Pointer. Porque esse consumidor me procura e diz que disseram para ele que American Bully e Exotic Bully são a mesma raça, e não são.
Procure um criador de American Staffordshire Terrier e diga que você quer comprar um Pit Bull Terrier. O criador vai explicar que não são a mesma coisa – e esses em tese são sim, só separados por seleção, nem são separados por inserção. Então, hoje o que me deixa decepcionado com toda essa empreitada é isso.
Não posso receber mensagens, ligações de pessoas que estão sendo confundidas por um mero comércio, quando deveriam ser elucidados por uma ideologia. E a ideologia de fazer dinheiro, nunca foi o pilar da cinófila que eu acredito. Tanto é que os bem-sucedidos na criação fazem as transformações que são pessoais e nunca comerciais. Criadores bem-sucedidos fazem moda, eles não as seguem.
Eu sempre me despeço de quem busca cães micro, mesmo que por falta de conhecimento esse termo seja usado para apenas definir o tamanho, mas usou a denominação micro, por menor que meus cães estejam, eu não atendo, pois não crio micro. Crio Pocket que está descrito no padrão da raça que crio.
O que falta na criação dos exóticos é isso: querer de fato a separação das raças. E não dizer que cria exótico, mas ludibriar o cliente leigo que é a mesma coisa que o American Bully, que todos os American Bullies têm bulldog e “blá blá blá” para vender cachorro.
08) Já produziu algum cão que é a personificação do seu objetivo na raça ou ainda pretende chegar lá?
A Feeling Good tem muito do que eu desejo na raça, sua filha Wakanda também. Em relação a fenótipo são meu objetivo, mas em relação a temperamento ainda não são o que busco. Não posso soltar cães que ao invés de interagirem com outros, brincarem, fiquem me seguindo com os olhos, mesmo quando deitadas. Isso me incomoda, sinto elas presas demais a mim, é muita pressão e não há carinho que as satisfaçam.
Então, ainda busco um temperamento mais livre dentro desse fenótipo. E também ainda quero incluir todos os cães que adquiri em um só pedigree.
09) Qual o seu entendimento atual sobre o plantel nacional e como estamos em relação aos americanos?
Eu honestamente, desde de que me afastei dos debates das redes sociais, não acompanho nada de ninguém. Não só daqui do Brasil, como lá de fora também, querendo ou não você acaba sendo influenciado.
E como, infelizmente, não me identifico muito com outras criações no sentido de objetivos, pois, justamente busco me desprender das tipologias existente, então não posso opinar.
O pouco que vejo é que tem muito mais homogeneidade nas criações de um modo geral, muitos cães bons, bonitos. Às vezes me deparo com fêmeas ocasionalmente, que se fosse à dois ou três anos atrás, eu compraria sem dúvidas.
Então, meu entendimento é zero. Se resume a cães que vejo ao acaso e realmente nem busco saber se são de trabalhos contínuos ou se são frutos do acaso (um bom resultado que não era o esperado e planejado ao realizar determinada cruza).
O engraçado que a raça é justamente isso mesmo, cães ocasionais que nascem por aí. Isso é o mágico da raça e o que realmente me envolve: buscar o acaso dentro de um norte.
10) Deixe uma mensagem final, um conselho, para quem está lendo essa entrevista.
Olha, eu tenho visto muita informação de manejo circulando por aí que teria me salvado em muitas ocasiões. Eu perdi alguns cães por falta de conhecimento de manejo.
Primeiramente agradecer e parabenizar essas pessoas por compartilharem esses conhecimentos, que são literalmente vitais. Parabenizar você por toda sua dedicação que tem para o estudo e entendimento sobre a raça.
Continuo apostando sempre como conselho principal na assinatura do Bullypedia para entendimento e conhecimento da raça American Bully.
Outro conselho é que, caso não seja um criador comercial, tenha paciência, foco e jamais seja desonesto, o trabalho basta, as coisas acontecem naturalmente.
A criação, por se tratar não só da vida dos animais, mas por ter muito amor envolvido das pessoas que adquirem os filhotes, é muito mística. Tem muita energia envolvida e está tudo conectado, tudo que vai volta.
Aja sempre com princípios, verdade e dedicação para com os animais. Sempre com muito respeito, responsabilidade e carinho com eles. Ninguém pediu para estar lá.
Obrigado pelo convite. Espero ter esclarecido algumas coisas sobre minha criação e espero ter ajudado.