Perfil Bully 08 – Felipe Borges

Oitava entrevista, da série Perfil Bully, para conhecer melhor os criadores que são destaque no Brasil. Apresentamos: Felipe Borges –  Toca do Pit Bull

Importante criador do Nordeste Brasileiro, é referência na raça Pit Monster e teve uma criação bem-sucedida de American Bully. Com talento nato para a criação de resultados e uma grande experiência, Felipe Borges nos conta um pouco sobre sua trajetória com os cães e algumas particularidades regionais.

Venha conhecer mais sobre o TPB – Toca do Pit Bull.

Por Gustavo Josetti – 17 de fevereiro de 2021

 

01) Conte-nos sobre sua história na criação de cães.

Minha paixão por cães vem desde a infância, mas não tinha a condição de tê-los, então quando atingi minha maior idade fui correr atrás do que eu sempre quis. Na época os veículos de comunicação eram a revista Cães e Cia e alguns noticiários que passavam na televisão uma vez ou outra.

Lembro que me chegou a informação, não me recordo quando, de que uma pessoa em Roraima estava vendendo uma cadela Pit Bull adulta e eu me interessei. Pedi que mandasse fotos e assim foi feito: recebi uma carta com várias fotos da cadela e fechamos negócio. Foi assim que adquiri meu primeiro Pit Bull em 1997.

Na época não tinha menor intenção em ser um criador da raça, comprei apenas por que curtia cães com vigor físico fora do normal. Curtia ver os cães fazendo esportes da modalidade game dog e, assim como eu, a modalidade ganhava novos adeptos.

Conheci uma pessoa que veio do Rio de janeiro com um casal de Pit Bulls então entrei em contato e fiz a minha primeira cruza. Vendi todos os filhotes ainda na barriga da mãe, tive muita facilidade e aquilo despertou meu lado empreendedor. Por que não realizar um sonho de infância e ter mais uma renda? Assim passei a olhar com outros olhos, passei a estudar mais a respeito da raça e o que ela tinha de melhor a oferecer.

Tinha dois caminhos a seguir: rinha (que é uma tremenda idiotice) e o game dog, que era o lado mais esportivo. Logicamente me interessei pelo game dog, onde vinha alcançando muitos jovens e amantes de cães.

Época de Game Dog

Então tive contato com um adestrador de Brasília/DF que estava fazendo um excelente trabalho com a raça e o esporte, perguntei se teria disponível algum Pit Bull que estivesse pronto, ele me enviou fotos do que tinha disponível através de carta e fechamos negócio.

Escolhi um cão chamado Negão, um cão diferente de tudo que já tinha visto na vida. [Com] um drive extraordinário, fazia salto à distância, altura, tração, obediência, ataque, defesa, faro, mergulho e etc. Um cão completo, fez várias apresentações em eventos, gravava comercial para televisão e com isso o cão fez o meu nome.

Depois desse investimento chamado Negão, o que era fácil (vender filhotes) ficou mais fácil e mais valorizado ainda e daí por diante não parei de investir no canil que surgiu com o nome Toca Do Pit Bull.

O segundo passo foi procurar cães com mais estrutura e cães que fossem registrados (Pedigree). Escolhi o canil do amigo Rogélio Piloni para fazer a minha primeira aquisição de um cão com uma estrutura diferente dos cães que tinha. Adquiri um dog tri-chocolate com sangue Thompson que foi chamado de Maximus Star Red, lembro que fiquei impactado quando vi o filhote, até a minha família olhou com outros olhos o animal.

Com a facilidade da internet e as redes sociais (Orkut, MSN) facilitou o acesso aos criadores, passei a viajar o Brasil para conhecer os cães ao vivo, conhecer a estrutura dos canis, aprender mais sobre o manejo e me aprofundar mais e mais nesse universo encantador que é a criação de cães.

Depois de ter colocado mais volume em meus cães passei a pesquisar sobre os bullies e vi que o que era bom podia melhorar e resolvi investir em cães bully ou Tipo Bully (Bully Type), como eram conhecidos alguns cães em destaque no Brasil.

Certo dia em umas das minhas pesquisas vi uma cadela chamada Sweet Dreams do Rasec Kennel, uma cadela que estava à frente do seu tempo, fruto de uma cruza com Pit Bull x Bulldog (o tão apredrejado Bulldog). Falei com o Cesar Rasec o proprietário do Rasec Kennel e comprei um filhote macho da cruza Mr. Wide x Sweet Dreams, filhote que batizei com nome Bronx e assim iniciava a minha trajetória no mundo bully.

Bronx

02) O que o levou a abandonar uma criação bem-sucedida de American Bully e focar exclusivamente no Pit Monster?

Devido à essa busca por fenótipo de cães com fuço cada vez mais curto. Vi que cada vez mais aumentava a dificuldade e o manejo com a raça por morar no Nordeste e ter um clima muito quente.

Na verdade, comecei a criar bullies por ser o mais próximo do que eu sempre almejei: que eram Pit Bulls com mais volume e uma musculatura impactante

Eu fazia o trabalho (em separado) com as duas raças, até que decidi juntá-las e tive um resultado satisfatório. Conseguir ter cães mais volumosos e com uma respiração melhor, a partir daí comecei a selecionar e a registrá-los apenas como Pit Bulls.

Então foi que tomei a decisão de focar nos Pit Bulls extremados e logo foram reconhecidos como (raça) Pit Monster pela IBC.

TPB Miss Aby

03) Sendo uma referência no norteste brasileiro, estando também numa posição estratégica ao lado do norte do país, quais as principais dificuldades de um criador fora dos grandes centros? Já sofreu algum tipo de preconceito?

Principal dificuldade que tive foram as ferramentas – que eram poucas para agregar algo no meu plantel – investia bastante para ter alguma evolução, pois não tinha como pegar no vizinho e essa foi e é a minha grande dificuldade.

Em relação ao preconceito sofri sim, mas por incrível que pareça sofri esse preconceito do próprio Nordeste. Pois a grande maioria do que (os criadores) vendiam eram para os grandes centros, pouca coisa ficava no Nordeste.

TPB Antraxa

04) Os grandes investimentos em importação de cães, na sua grande maioria, são no Sudeste e Sul do país. Você acredita que essa diferença regional de investimentos impacta de alguma maneira as outras regiões e consequentemente os resultados?

Sim, sem dúvidas. Os grandes centros tipo São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba – que foi o berço de todo esse mundo bull que vivemos – que é onde estão os maiores importadores, naturalmente terão resultados mais expressivos e todos ganham com isso.

T-Rex

05) Quais as diferenças de manejo, com os cães e linhas que trabalha e trabalhou, que você mais identificou entre American Bully e Pit Monster?

Aqui a minha grande dificuldade com American Bully foi a respiração. O clima aqui é superquente o ano todo e os bullies sempre sentiram bastante.

Teve vezes que botava o cão no carro para passear e tive que voltar para casa porque os cães passavam mal assim que desciam do carro, se quisesse sair tinha que ser a noite e olhe lá.

O lado bom do American Bully era o temperamento, que era excelente, se davam muito bem com tudo e com todos. Eram cães pequenos e leves, no máximo chegavam a 35kg e isso facilitava muito o manejo.

Já nos Pit Monster não tenho problemas com respiração, são cães com vigor físico melhor, mais ativos. São cães que passam de 50kg fácil, mas tem o temperamento mais quente entre eles, o que torna o manejo mais puxado, mas para o nosso clima é bem melhor.

Felipe Borges e MW T-Rex

06) Você já teve algum problema de manejo em relação ao clima nordestino? Notou que alguma linha de sangue ou algum cão não se adaptou ao clima local?

Como foi dito anteriormente sim, tive problemas com os American Bullies. Vi cães superaquecer na minha frente, infelizmente não consegui salvar.

Acredito que o que contribuiu bastante para isso foi o fato do American Bully ser um cão mais de vitrine, não uma raça selecionada por aptidão às funções. Foi uma seleção em cima de fenótipo + fenótipo e acarretou no enfraquecimento da raça, potencializando os problemas e doenças congênitas.

Hoje os criadores têm essa preocupação em selecionar não só o fenótipo, mas selecionar cães mais saudáveis, rústicos e consequentemente proporcionando mais longevidade aos mesmos.

TPB Brutalle

07) Como você enxerga o reconhecimento da raça Pit Monster pela IBC? Realmente era necessário um registro próprio para os criadores de Pit Bulls pesados?

A IBC foi um divisor de águas. Assim como existiu a necessidade de se criar uma nova raça para os Pit Bulls devido a inserção que sofreram e originou o American Bully, houve necessidade de se criar uma nova raça para American Bully que tiveram inserções (Exotic Bully); hoje em dia (ocorre com) os Pit Monsters.

Vi muita gente atirando pedra e apontando dedo, achando tudo muito errado, que a IBC estava de certa forma incentivando as pessoas a fazerem cruzas sem o mínimo de seleção, mas felizmente a raça está evoluindo bem.

Tem muito criador sério fazendo um excelente trabalho e esse suporte que a IBC nos deu reconhecendo e registrando a raça foi de fundamental importância.

TPB Minnie

08) Já produziu algum cão que é a personificação do seu objetivo na raça Pit Monster? E quando criava American Bully, produziu o que almejava?

Na criação dos American Bullies cheguei a produzir cães próximos do que eu almejava, posso citar o nome de alguns, que na época eram conhecidos por todos no Brasil, que eram: TPB Antraxa, TPB Miss Aby, TPB Brutalle – cadelas que se destacaram no cenário nacional, filhas de uma cadela chamada Absurda (cadela que devo muito a ela).

Nos Pit Monsters produzi bons cães com o MW Blue King e hoje já estou produzindo excelentes cães com o MW T-Rex, porém ainda estou no meio do percurso para produzir o que eu almejo. Como já foi dito, os problemas são muitos e a distância dos grandes centros continua sendo um deles.

Absurda

09) Como você avalia, de uma maneira geral, o plantel nacional de Pit Monster e o futuro da raça?

A raça vem ganhando força a cada dia com muitos novos adeptos. Com o material genético que temos no Brasil tem tudo para dar muito certo, desde que os criadores saibam usar essas ferramentas, produzam bem, estudem as cruzas e não cruzar por cruzar – apenas pensando em recuperar a grana investida.

Cruze com a consciência que o resultado será sempre o melhor possível e que assim você terá o reconhecimento tão almejado por todos.

Temos as ferramentas, temos a entidade IBC que abraçou a causa então está fácil. É consciência, seriedade, transparência e honestidade, o resto é consequência.

Torço pela raça, torço pelo Nordeste. Que cada vez mais a raça possa crescer por aqui e que as pessoas possam se unir pelo bem em comum da raça.

Felipe Borges e TPB Samurai

10) Deixe uma mensagem final para quem está lendo essa entrevista.

Faça o certo sempre, seja transparente, alimente seus sonhos todo tempo e busque melhorar a cada dia; não interessa o que você faça, mas seja referência naquilo que você se propôs a fazer.

O caminho não é fácil terá pessoas para te jogar para baixo, para tirar a sua paz, mas também terá pessoas do bem que vão agregar na sua vida e na sua criação.

Não queira agradar a todos porque você não vai conseguir, mas seja íntegro com todos, jamais esqueça de colocar Deus à frente dos seus projetos – um grande abraço a todos.

Agradecimento ao Gustavo Josetti, uma pessoa de um grande conhecimento do mundo bull, um grande estudioso que sempre e desde o começo esteve presente de forma positiva no mundo bull.

Blue King

 

Saiba mais:

Pit Monster – IBC (ibcdogs.com.br)

Exotic Bully – IBC (ibcdogs.com.br)

Regras para Registro – Exotic Bully – IBC (ibcdogs.com.br)

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