Perfil Bully 10 – Ron Ramos

Décima entrevista, da série Perfil Bully, para conhecer melhor os criadores que são destaque no Brasil, mas dessa vez uma EDIÇÃO ESPECIAL com um dos maiores nomes da história do American Bully

Apresentamos:  Ron Ramos – Mr Papa Pit

Quase uma vida inteira dedicada a convivência e criação de cães, Ron Ramos, mais conhecido como Mr Papa Pit, é um dos maiores juizes de todos os tempos e viu a raça American Bully ser criada e julgou os maiores bullies já vistos.
Conheça um pouco da história de quem viu a história ser criada e foi peça ativa no desenrolar de uma das raças mais controversas e cativantes de todos os tempos.

Venha conhecer mais sobre o Mr Papa Pit e toda sua história

Por Gustavo Josetti – 16 de setembro de 2021 – Tradução: Leonardo Gibo

 

01) Você já era criador de American Pit Bull Terrier duas décadas antes da ABKC ser fundada e viu todo o movimento bully surgir na américa nos anos 1990. Em 2004 você acreditava que os cães de fundação da raça American Bully realmente tinham se afastado o suficiente do Pit Bull Terrier e isso era mesmo um caminho sem volta? Conte-nos um pouco de como foi o início da raça.

Muitos nomes para mencionar e não quero ferir os sentimentos de ninguém caso eu me esqueça de algum. O nascimento do American Bully foi no coração da Califórnia. A linhagem de quase todos os bullys remonta a um bully que foi reproduzido na Califórnia.  Foi aí que começou a ser percebida a mudança na aparência das raças, com muito mais massa, cabeças maiores e focinhos mais curtos.

 

02) No início da raça American Bully, quando realmente iniciaram os registros, os criadores tinham dificuldade de compreender a nova raça? Os juízes em pista também tinham alguma dificuldade ao avaliar?

No início os criadores tinham que descobrir qual combinação produziria aquela aparência específica que todos estavam tentando atingir. Deixe-me ser sincero sobre isso: não havia uma impressão fotográfica para seguir. Até hoje criadores não gostam de dividir informações com outros. Na minha opinião é por isso que levou tantos anos para chegar a uma coerência em relação a raça.

Quanto aos juízes, foi uma tarefa difícil encontrar aqueles que realmente entendessem o padrão e o tipo da raça.  Principalmente por que muitos desses criadores nunca expuseram um cachorro ou nunca estiveram preocupados quanto a conformação ou não entendiam nada sobre problemas de saúde.

Devagar, mas certamente a comunidade bully começou a obter criadores que mostravam ter experiência de exibição, mas até isso teve efeito adverso por conta do conceito de cão de exposição e a compreensão de um tipo de raça de bully. A mente e os olhos deles foram treinados mais para cães do tipo Terrier, como os Pitbulls e Amstaffs.

Mr Papa Pit

3) Qual foi a importância das exposições e pistas para realmente autenticar essa raça? O que pode dizer aos brasileiros sobre a importância que essas atividades tiveram em estabelecer a raça American Bully?

Em primeiro lugar o American Bully é uma bela raça de companhia e merecia ser lapidado como um diamante fino.

Para criar qualquer raça excelente você precisa documentar a linhagem dos cães para ter o modelo, a fim de repeti-la constantemente em como criar esses lindos cães.

As exposições caninas são essenciais para medir a qualidade e consistência da raça. Exposições com juízes bem treinados ajuda a policiar a raça e mantê-la dentro dos limites (padrões escritos). Se não fosse por exposições de cães ou juízes qualificados, nunca teríamos consistência ou reprodutores de grande qualidade.

 

04) Como juiz e criador o que você pode dizer sobre a dificuldade que os criadores têm em produzir o tipo ideal da raça? O CD Kennels El Toro, que representa o Padrão (standard) da raça, não é uma referência distante da realidade do que produzem por aí?

A raça surgiu com muitos anos ainda (pela frente) para ser considerada uma raça terminada.

Hoje não é tão difícil quanto antigamente por que a qualidade melhorou e existem muitos espécimes legais para escolher para criar uma aparência mais consistente. Mas ainda existem aqueles que se concentram muito na estrutura e não no tipo da raça.

Criar um bully da nova era é um ato de equilíbrio com o fenotipo da raça, estrutura e boa saúde e alguns criadores não entendem a importância de equilibrar tudo isso e não perder a massa que separa a raça dos Pitbulls ou Amstaffs.

Honestamente, na minha opinião, a raça ainda está em desenvolvimento.

Ron Ramos em pista

05) Após 2010 a inclusão do Bulldog nos American Bullies tornou-se cada vez mais evidente. Como juiz, como você lidou com essa nova inclusão? Você teve que mudar os critérios de avaliação ou os juízes tiveram orientação sobre como proceder?

O conceito original era o visual bully (visual mais agressivo) e acredito que está fechando o círculo para o conceito original e os registros estão vendo isso.

De uma fonte muito confiável, os maiores registros que reconhecem a raça têm orientado os juízes a reconhecer a direção que deveria ter seguido desde o início.

É por isso que digo que a raça ainda está em desenvolvimento e levará anos para estar onde deveria estar.

 

06) Participando ativamente de toda a história da raça American Bully, você acredita realmente que chegou o momento da separação entre Exotic Bully e o American Bully?

Isso vai levar mais muitos anos, principalmente com os diferentes registros aparecendo em todos os lugares, com diferentes ideias de como o cão deveria ser – incluindo os diferentes países em todo o mundo.

O que consideram ser um American Bully em uma entidade, pode não ser igual em outra e o mesmo se aplica com o Exotic Bully.

 

07) Desde 2004 até hoje, vendo toda a trajetória do American Bully, os diversos cães atípicos, abulldogados e fora do padrão que surgiram e foram aceitos na raça. Você acredita que precisa acontecer uma revisão da história da raça e incluir os bulldogs em sua formação e como parte ativa para que a raça exista?

Essa é uma ótima pergunta e depende da sua opinião a qual cachorro você está se referindo.

Vou dizer isso: é importante interagir com seu cão, isso é saudável para ambos. Depende de quais atividades você quer aplicar, como treinando um cão de trabalho ou treinando para exposição, ou até mesmo o básico da obediência.

Se eu acho que precisa ser revisado, sim (acho), mas se vai acontecer é uma pergunta difícil de responder. Porque na minha opinião precisa acontecer globalmente e não individualmente em clubes ou entidades.

Ron Ramos a.k.a. Mr Papa Pit

08) Como você vê a constante redução de tamanho dos American Bullies? Esses cães cada vez menores são uma tendência. Você acredita que eles podem interferir no propósito original da criação dessa raça?

Ótima pergunta. Minha pergunta é: onde paramos?

Quando é muito menor ou pequeno e não compromete a boa estrutura esquelética e não compromete a saúde. Tudo é possível, mas não acho que muitos dos criadores sejam disciplinados o suficiente para ficar nas entrelinhas.

Ultimamente tenho ouvido os termos “Funcionalidade e Estrutura”, até mesmo dos criadores de Exotics e Micro, mas não acho que eles realmente entendam o verdadeiro significado dessas duas palavras na criação de cães.

 

09) Nos últimos anos vêm surgindo inúmeras novas entidades de registro. O que você vê de positivo e negativo nessas entidades em relação a raça American Bully?

O lado positivo é que nunca houve uma paixão maior no mundo canino do que aquela que o bully criou. Além disso, as exposições mostram muitas culturas diferentes e entusiastas de cães juntos, como o bully fez.

A desvantagem é o esforço para criar uma aparência consistente (homogênea) da raça. Talvez seja necessária uma reunião mundial para tentar colocar todos na mesma página (rumo/objetivo).

 

10) Em 2018 você participou de um Show da IBC no Brasil e viu de perto alguns cães do plantel brasileiro. Deixe um recado, um conselho, para os brasileiros.

Em primeiro lugar, não posso agradecer a IBC e à comunidade canina do Brasil o suficiente! (Obrigado) por me dar a honra de participar de um evento tão bem organizado, uma verdadeira honra com o belo povo do Brasil.

Para o apreciador do American Bully no Brasil, fiquei muito impressionado com sua paixão e seus lindos cães. Façam sua lição de casa: por mais tentador que seja, não se envolva com cães que são apenas tendência! Estes são animais vivos que realmente amam seus pais humanos, então deem a eles o mesmo amor e respeito.

Não são um penteado novo ou um par de sapatos que quando a moda acabar você apenas joga fora como lixo. Se você for verdadeiramente apaixonado pela raça, mantenha-se dentro dos padrões escritos.

A melhor maneira de explicar os padrões escritos é imaginar-se como um artista e a única regra que você deve seguir é que você pode pintar o que quiser, mas deve permanecer dentro do quadro!

Alguns bullies do também criador Ron Ramos

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